Pesquisadores do Peld Catimbau e visitantes do parque em geral, agora contam com um reforço na identificação das árvores e arbustos do parque, trata-se do quarto volume do Guia de Campo das espécies de plantas lenhosas do PARNA do Catimbau.
No guia são descritas mais 20 espécies de plantas lenhosas que são frequentes nas 35 parcelas permanentes do projeto e estão dispersas por diferentes partes do parque.
Além dos 4 volumes lançados anualmente a partir de 2018, um guia de sementes foi produzido em 2019. Somando os 4 volumes, são 80 espécies de plantas lenhosas descritas, representando cerca de 80% das espécies coletadas nas parcelas do PELD, o que facilitará alunos recém ingressos no projeto ou pessoas interessadas em identificações botânicas.
O guia de campo pode ser melhor aproveitado se utilizado junto ao Guia Ilustrado do PARNA Catimbau, para uma melhor visualização das espécies.
Todos os quatro volumes e os guias ilustrados podem ser conferidos na aba Publicações na seção Cartilha de Identificações de espécies,
O quarto volume do Guia de Campo e o Guia Ilustrado podem ser acessados abaixo:
Pesquisadores do PELD-Catimbau desenvolvem pesquisas sobre como uso insustentável de recursos naturais e mudanças climáticas afetam a diversidade e os bens e serviços ecossistêmicos providos pela Caatinga. Como resultado, fornecem subsídio para elaboração de protocolos de regeneração e de políticas públicas com linhas de ações associadas à adaptação às mudanças climáticas e de melhores práticas de uso da terra pelos agricultores.
Em regiões do semiárido (como ocorre no Parque Nacional do Catimbau) boa parte da população é de baixa renda e altamente dependente dos recursos naturais para sua subsistência, praticando a agricultura de corte-e-queima para incorporar nos solos os nutrientes da floresta queimada, coletando lenha para cozinhar e madeira para a confecção de cercas e casas e criando animais domésticos (sobretudo caprinos) que se alimentam da vegetação nativa1. Por exemplo, um estudo buscou avaliar o consumo per capita de lenha para toda a população do Parque2 (1200 pessoas), de desmatamento da vegetação por ano – apenas para suprir as demandas domésticas. Como resultado dessas práticas na região (como em outras áreas de Caatinga), o Parque apresenta uma paisagem composta por mosaicos formados por áreas de cultivo, florestas com diferentes idades de regeneração e florestas maduras3. “Dentro do Parque”, observa o biólogo Felipe Melo, professor da UFPE, “como o governo impõe restrições ao uso da terra, as famílias são mais pobres e mais dependentes dos recursos naturais que as de fora, mas também não conseguem sair de lá porque não têm para onde ir”.
A região também está vulnerável às mudanças climáticas: pesquisadores constataram um aumento de temperatura e redução de chuvas (ou seja, aumento de aridez) que tem uma interação negativa com as atividades humanas dentro do Parque (oriunda da não regulamentação fundiária)4. “O aumento de aridez reduz a produtividade do ecossistema e aumenta a pressão das populações humanas sobre a vegetação, que agora têm que explorar áreas maiores para manter a mesma produção, provocando um vórtice de degradação e vulnerabilidade que pode comprometer a sustentabilidade ecossistêmica” diz a ecóloga Inara Leal, da UFPE, vice coordenadora do PELD- Catimbau. “E esse cenário não é um quadro isolado, a trajetória de degradação que observamos no Catimbau, com a transformação da floresta em uma vegetação dominada por arbustos perfilhados, herbáceas colonizadoras agressivas e muitas vezes culminando com a desertificação e vulnerabilidade das populações humanas, ocorre não apenas em toda a Caatinga, mas em outras florestas secas do México, África e Índia” diz Leal.
Para entender melhor este cenário, o PELD Catimbau abarca uma série de iniciativas:
1) Descrição dos mecanismos pelos quais as atividades humanas promovem perturbações nesse ecossistema, como agricultura de corte-e-queima, coleta de lenha e madeira, exploração de produtos florestais não madeireiros e criação de caprinos;
2) Quantificação a magnitude do aumento da aridez com estações meteorológicas instaladas no Parque desde 2014;
3) Investigação dos padrões de diversidade taxonômica, filogenética e funcional de comunidades de plantas (árvores ou herbáceas) e animais (insetos, mamíferos, aves, répteis e anfíbios);
4) Perda de interações planta-animal (como polinização, dispersão de sementes, controle de pragas, decomposição, fertilidade dos solos) que são bens e serviços providos pela diversidade para as populações humanas;
5) Avaliação da produtividade, estoque e ciclagem de nutrientes;
6) Acompanhamento das mudanças no uso da terra e como se dá regeneração natural da floresta;
7) Mapeamento geográfico de todas essas informações e sua disponibilização para à sociedade através do sítio do PELD-Catimbau;
8) Ações com crianças e adultos das comunidades que vivem dentro e no entorno do Parque com projetos de extensão, campanhas de educação ambiental, divulgação científica, dentre outras.
Ao longo dos oito anos de execução, mais de 100 estudantes de graduação e pós-graduação da UFPE e de outras instituições parceiras executaram seus projetos no âmbito do PELD-Catimbau. Isso resultou em muitas dezenas de artigos publicados, além de livros e capítulos de livro. Também executamos edições anuais do curso de campo Ecologia e Conservação da Caatinga, formando, em cada edição, 20 estudantes de pós-graduação do Brasil e de outros países. O eixo central do curso é a simulação intensiva do “fazer científico” que vai desde a observação em campo dos fenômenos biológicos, passando pela formulação de perguntas científicas, escolha de métodos, desenho de experimentos, análise de dados, discussão pública, elaboração de relatórios, sistema de revisão por pares, editoração e publicação.
Todas essas iniciativas resultaram em uma produção científica profícua e prolífica, com dezenas de artigos científicos publicados em jornais de alto impacto e audiência, capítulos de livros e livros publicados por grandes editoras como Springer e Cambridge. De forma sintética, os resultados na escala dos municípios da Caatinga indicam que os principais fatores afetando as mudanças no uso da terra são econômicos (e.g. densidade de gado), demográficos (e.g. densidade populacional e distância para grandes cidades) e ambientais (e.g. temperatura). O analfabetismo também contribui para o aumento das áreas de pasto, as quais apresentam menor provisão de serviços ecossistêmicos que as áreas de floresta, com maior produtividade primária histórica (2000 e 2010). Áreas degradadas e/ou em regeneração também são mais produtivas que áreas de pasto. Esses achados sugerem que manter áreas de floresta é essencial para a provisão de serviços básicos.
Sobre o monitoramento de biodiversidade e de interações ecológicas, o aumento na aridez tem um efeito negativo sobre a diversidade taxonômica, filogenética e funcional das comunidades de plantas, insetos e vertebrados mais forte que o aumento no uso dos recursos naturais. A qualidade dos serviços ecossistêmicos providos por interações entre plantas e animais (polinização, dispersão de sementes, controle de pragas) também é reduzida com o aumento da aridez e do uso de recursos naturais (ou seja, das perturbações antrópicas). Esses achados indicam que é preciso manter o máximo de vegetação original possível, uma vez que a substituição da vegetação por outros tipos de uso da terra acelera o aumento da aridez e tem um efeito sinergético na redução de biodiversidade, funções e serviços ecossistêmicos.
“Muitos desses resultados podem subsidiar a gestão do PARNA Catimbau (e.g. plano de manejo) e políticas públicas em geral, tais como a necessidade: (1) de indenização e remoção das populações vivendo dentro das UCs de proteção integral, (2) eliminação ou controle da presença de animais domésticos dentro das UCs, (3) implementação de formas alternativas de uso do solo que não sejam baseadas na exploração de recursos florestais, (4) implementação de iniciativas voltadas à capacitação e adoção de melhores práticas agrícolas associadas à proteção dos solos, devolução de nutrientes, proteção das áreas em regeneração, entre outros. Todas essas políticas públicas são imprescindíveis no contexto de desenvolvimento sustentável do Semiárido” observa Marcelo Tabarelli, professor e coordenador do PELD, que desde 2012 percorre com frequência o Catimbau. “Políticas públicas já em vigor têm ajudado indiretamente a preservar a Caatinga, tais como os programas de transferência de renda, principalmente a aposentadoria rural, desaceleraram a exploração da caatinga e deixaram as famílias menos dependentes dos recursos naturais”, conclui Tabarelli.
A restauração da Caatinga também é uma atividade promissora, apesar de ainda pouco explorada pelos custos elevados e pelas peculiaridades do ambiente, sendo difícil ou inaplicável a implementação de técnicas de restauração de outros ambientes. Esforços para tornar a restauração desse ecossistema realidade também estão sendo realizados pelo NEXUS (imagem ao lado), um projeto vinculado ao PELD que abarca questões como controle de espécies invasoras, mapeamento de interações biológicas e manutenção da resiliência da Caatinga.
Referências:
1. FREIRE, Neison Cabral Ferreira et al. Mapeamento e análise espectro-temporal das unidades de conservação de proteção integral da administração federal no bioma caatinga. Brazilian Journal of Development, v. 6, n. 5, p. 24773-24781, 2020.
2. CAVALCANTE, B. Uso doméstico de recursos madeireiros em comunidades rurais em uma paisagem do semiárido nordestino. 2015. Tese de Doutorado. Msc thesis, Universidade Federal de Pernambuco-UFPE, Recife.
3. LEAL, I.R., Tabarelli, M., & Da Silva, J.M.C. 2003. Caatinga.
4. DE MOURA GARCIA, Ana Célia Saraiva et al. Vulnerabilidade ambiental em áreas de caatingas na unidade de conservação parna do Catimbau, Pernambuco, semiárido brasileiro. Holos Environment, v. 20, n. 4, p. 625-640, 2020.
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